segunda-feira, 16 de maio de 2016

sobre o começo do frio em abril

noite
há um vento frio entrando
através da janela
deve ser o fim do fogo de abril
mergulho a cabeça
para fora
solto um uivo
de lobo esfaqueado
(isso deve assustar os vizinhos
mas eles devem estar acostumados)
essa entrada ainda tímida 
do inverno
foi anunciada por aquela
negra bonita do jornal nacional
a Maria Júlia ou Maju
às vezes desabo meu cansaço
no sofá da sala
escuto sonâmbulo as notícias
me divirto com a política
os da esquerda veem o mal nos da direita
os da direita veem o mal nos da esquerda
é igual a um filme de Hollywood
há mocinhos e bandidos
a diferença é que na política
ninguém sabe quem é quem
e se soubessem descobririam
o pouco que sabem sobre si mesmos
aprecio a opinião do filósofo alemão
Friederisch Nietsche
"não sou nem socialista nem democrata
a igualdade é uma injustiça!"
mas isso é passado
hoje 
as notícias do jornal
os problemas do país e do mundo
me enchem de tédio
logo abandono a TV
deixo-a ligada para ela ficar
como um idiota discursando
para o nada
volto ao quarto
ao início do poema
ao vento venenoso
abrindo picadas de arrepio
no corpo tão gasto
debilitado
e
tosco
esse vento atrevido
respinga na pele
refresca a pele
já cansada do destemido sol
que a açoitou por meses
me deixou inúmeras vezes
molhado de suor
como um homem nervoso
em um amanhecer de chamas convulsivas
à espera da guilhotina
ainda bem que existem as estações
apesar da humanidade moderna
em sua fúria de fazer tudo igual todo maldito dia do ano
quer esquecê-las
mas as estações sobrevivem ferozes
causam
nevascas
incêndios
enchentes
avalanches
estiagem
(mendigos   bêbados  prostituas)
morrem de frio em invernos tenebrosos
(europeus branquelos e ingênuos)
morrem de insolação no verão das delícias apodrecidas
como morreu Neil Cassidy nos trilhos de uma ferrovia que ia ao México
e tudo porque o planeta está
inclinado 23 graus em relação ao sol
(quem diabos o inclinou?)
e vi no anêmico jornal
que estão assinando um tratado
envolvendo 171 países
sobre o aquecimento global
e esses caras
que não sabem distinguir um fiapo de palha de milho
de um pelo do rabo
também não sabem ao certo a origem desse aquecimento
(pode ser natural!)
mas estão preocupados
os românticos apaixonados pela natureza
as arvorezinhas de frutos carnudos
os passarinhos bonitinhos
as gordas baleias
a tenras montanhas
as flores lacrimejantes
todo esse sentimentalismo
daqueles que amam mais
vegetais  bichos  e  até  pedras
do que seus
pais   filhos  maridos   esposas   vizinhos
noite
escrevi o bastante
(nem sei o que ou para que!)
porém foi bom
continuo a ouvir o som
daquele vento frio
não tenho a mínima ideia
de como ele me motivou
a rabiscar esse longa escrita
(tão longa quanto as pernas
de uma puta que conheci há 15 anos
seu nome era Isadora
nunca a esqueci...)
e o que isso tem a ver com o
resto do poema?
mesmo assim
vou deixá-lo
dessa forma
não quero modificá-lo
desse jeito ele me
adora
   

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