segunda-feira, 16 de maio de 2016

um rio

suave
como uma manhã de domingo azul
suave
como o sorriso do gato
quando o gato some
e fica o sorriso
suave
como a arte
de cair
de pé
suave
como o sussurro da ave
sendo penetrada
por um sabiá macho gordo
suave
como o som da flauta deSchoppenhauer
na amarga Alemanha
do século XIX
suave
como o som dos sapatos de salto alto
da prostituta de unhas ferinas
e lábios cor-de-rosa
suave
como a prosa
de John Fante
tentando amar Camila
perguntando ao pó do deserto de Santa Ana
onde estará ela?
suave
como olhar uma cadela
ao parir seus filhinhos
no abandono da tarde
suave
como o sexo
entre
um bêbado e uma puta
numa noite chuvosa
num beco imundo
entre
ratazanas e orelhas decepadas
suave
como o brilho de uma espada
assassinando seu melhor amigo
numa alvorada cansada
do século XIII
suave
não!
não é nada suave
minha escrita
perfura
a página
jorra
vinho
loucura
sêmen
perfura
quem lê ou escuta
jorra
o que há dentro de você
invade esse vazio
meu
rio
de
poesia
doentia

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