quinta-feira, 19 de maio de 2016

arte

a traça
precisa do tecido
eu
ainda vivo
(após umas dez tentativas de suicídio)
preciso
da
palavra
não há nada
mais fascinante
vê-la cuspida
na página
vê-la colorida
dançando por todo o corpo
como uma bailarina nua
é o que há!
alguém
que não entende de arte
dirá:
isso é inútil
direi:
perfeita resposta
até parece que entende de arte
agradável
é a atividade
sem utilidade
mera atitude tola
como o andar
das formigas
em fileiras
sem saber
o porque
daquilo
carregando
quilos 
de folhas nas costas
o poeta
escreve
sem saber
porque
sente
sabor
sangrento
ao cometer esse ato
despretencioso
ocioso 
escreve
poemas
inúteis
quanto
mais
inúteis
mais
belos
mais
alegre
ele
fica
como as formigas estúpidas
a cada passo
mais
sorridentes
ficam
obdecem
ao chamado
da natureza
o poeta
por seu lado
obdece
à voz
que ele
mesmo inventou
invenção 
de
palavras
ardentes
a
queimar
olhos
de quem
ou
orelhas 
de quem
ouve
tudo inútil
como tudo na vida
acordar
comer
trabalhar
amar
morrer
tudo
é que hoje
todos esqueceram
da inutilidade total
(sua beleza!)
somente lembram
da inutilidade do artista
não faz mal
eles que leiam
suas revistas
sobre celebridades
engulam
suas pílulas
para sonhar
permaneço
precisando
da palavra
ela pisca
em vermelho e azul.
não insista
meu caminho é outro
é para lugar nenhum

Nenhum comentário:

Postar um comentário