segunda-feira, 9 de maio de 2016

palavra de honra

                                                                             a  Ana Beatriz Silva e Silva

palavra
ela está aí
plantada
palavra
uma oferenda
ociosa
entregue
ao mundo
entreguei
a palavra
à quem não
devia
enfermo
como esqueletos na enfermaria
arranhava
os lençóis azuis
com raiva
com a espuma do delito
escapando pelos cantos
tediosos da boca
por
ter
 entregue
 a palavra
me vi preso
com toneladas de corda
a prender
o corpo
entreguei
porque
quis
depois
os nós
não consegui desatar
a maldita
palavra
dada
deixou os dedos tristes
a maldita
palavra
dada
mergulhou a face
no barro mole
onde os cavalos
defecam
parecia
não haver saída
(e eu com um molho de chaves na mão!)
não sabia
qual usar
o tempo passava
permanecia preso
com um isqueiro aceso
enlouquecendo cigarros
descascando 
alho
cortando
cebolas
pimentões
tomates
(molho para a macarronada!)
a vida
guilhotinada
chicotaços no ventre
mas em frente
à TV
num monótono 24 de dezembro
com calor pegajoso
chorei
a palavra
entregue
voltou aos meus braços
abandonou o peito
de quem não devia
ficar com ela
minha cadela
gritou de felicidade
e na TV vi
aquela a quem tinha entregue a palavra
perdida
(como uma puta bêbada num bordel lotado)
eu
me encontrei
livre das amarras
entregue
à lavoura
onde planto as semente
brotam poemas urgentes
saborosa
é
a
solidão
cor-de-rosa

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