terça-feira, 3 de maio de 2016

um caso típico dos nossos tempos

as pálpebras se fecham
se abrem
em ritmo lento
nada atento
percebo
a navalha corta a carne
lágrimas de terror
inundam o carpet
esta ruptura na pele
é meu cansaço
e cansado vou até o armário
retiro meu calibre 38
abro a janela
procuro alvos
vejo dois bêbados esfarrapados
e suas garrafas de cachaça
não acho graça
em golpeá-los
procuro outro alvo
lá na esquina distante
vejo dois vultos
bem agarrados
caminho pela rua
chego perto
é um casal de adolescentes
felizes 
disparo
dois tiros
na cabeça de cada um
explodem os ossos
eles caem duros
parecem um casal de pássaros mortos
parecem um casal de plantas carnívoras mortas
sigo em minha caçada
vasculho as quadras do bairro
ouço gemidos de puta
à direita
atrás do muro do colégio
chego sorrateiro
um garoto fodendo uma garota
no assoalho de folhas do outono
eles cancelam o ato
de olhos arregalados
percebo que a garota usa aquelas
saias compridas e blusas sem decote
pergunto:
"você é alguma crente?
ela responde:
"sou evangélica da
Assembléia de Deus"
penso
essas são mais putas
que a mais desonesta prostituta
enfio duas balas
uma em cada um
na cabeça
explodem os miolos
sobre as folhas douradas
como minha munição está esgotada
retorno pacífico
ao lar
sem deixar vestígios
dos meus crimes perfeitos
o simples ato de matar
exige perfeição
chego ao quarto
imagino 
ao amanhecer
haverá uma manada de abutres
em torno de toda aquela carniça
isso me excita
esse é um poema psicopata
sobre a doença do homem
que desmancha a vida dos outros
para ver desabrochar a sua
não o julguem
entendam
eu
poeta
não apresento
saídas
sim
enigmas

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