quarta-feira, 25 de maio de 2016

irmã

ainda sua resposta
não recebi
não resisti
preciso urgentemente
de você
essa é uma súplica
em forma de poema
é uma carta
desesperada
em forma da poema
explodem vulcões do meu coração
escorre sangue por todas as partes
nas tardes
de puro fogaréu
meu céu está
tingido de escuridão
(mergulhado em depressão
as lágrimas não cessam
as lágrimas transformaram o
carpet do quarto
num charco!)
adormeço endoidecido
acordo furioso
caminho até a ponte num
andar corajoso
retorno cambaleando
estou gordo
você precisa ver
peso 103 quilos
você precisa ver
tenho um violão
(mas não faço aulas há três semanas)
o suor emana
quando fico esticado na cama
escutando
o som do ventilador
o zumbido colorido
das moscas
o rastejar entorpecido
das baratas
o que me mata é a saudade
da mãe   de você   de Joana
(sabia que a Joana morreu?)
é
foi em fevereiro
2014
aos 31 anos
antropóloga
poetisa 
editora
artista visual
doutoranda  em literatura na UFSC
morreu
ataque cardíaco
dentro do ônibus
que ia de Curitiba à Florianópolis
foi cremada
eu também quero ser cremado
como minha amada
quero que minhas tristes cinzas
encontrem as dela
juntos mergulharemos no aconchego
de um oceano azulejado
de resto
não permaneço calado
converso com as atentas paredes
na falta de um ser vivente
cada vez mais demente
mais solitário
que o mais solitário dos
dicionários
velho e empoeirado
esquecido
no canto de um armário
sigo escrevendo
poema após poema
dia após dia
poema insanos
(doidos mesmo)
autobiográficos
poemas sobre o poema
até poemas eróticos!
(uma menina   ano passado
publicou um artigo
sobre minha linguagem erótica!)
e você?
como está?
o trabalho
os filmes
os gatos
gosto
mais 
de
você
que
de
mim
sou um capim
a ser estrangulado
incomodando
um belo gramado
não espero nada
somente a morte
(como um trovão que sacode o céu)
não!!!
antes
espero ver você
nem que seja de longe
ver seu sorriso
deitar um suspiro
contra o vento
virar as costas
e
ir
embora
com
um
mar 
d'água 
nos
olhos

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