quinta-feira, 19 de maio de 2016

marginal

não somente a escrita
entre
o indo e vindo
dos cidadãos
literalmente descanço
nas margens
desse rio
entre
os cães feridos
e os
bêbados famintos
dialogo com esse pessoal querido
pisoteio a calçada
com o par de tênis
perfurado   sangrando
nas pontas
em dias chuvosos
ensopadas ficam as meias
ensopados ficam os pés
desfilo com estilo
na avenida pouco colorida
com calças
perfuradas   sangrando
por buracos
provocados por bitucas
de cigarros acesos
deixo-os desabar dos
dedos
em momentos de delírio
preso
na cela do hospício
cedo
conheci seres maravilhosos
imensamente mais interessantes
dos que vivem fora da cela
solto
sem dinheiro
vendi livros   discos   roupas
despreocupado
à margem
desse rio
com o dinheiro
da venda
comprei cachaça   cigarros   maconha
despreocupado
à margem
desse rio
sem dinheiro algum
pedi esmola   sentado
despreocupado
à margem
desse rio
em alegre vadiagem
as melhores gargalhadas
surgiram nessa estrada
entre
os mendigos
e as
moscas bicheiras
(era um deles finalmente!)
depois de meses
de fome
felicidade na grande cidade!
juntei moedas
e
despreocupado
à margem
desse rio
com o mesmo
par de tênis e calças
me dirigi a rodovia
estiquei o polegar
de carona em carona
vislumbrei a pequena cidade
caduca
devido à idade
mas escessivamente bela 
voltei
assim
num rodopio
retorne ao começo do poema
que é o presente
sente
à margem
desse rio
verá
delícias
emergindo da terra
embora
a decisão
seja
sua
é 
que gosto
de amar
os
bichos
da
rua
 

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