terça-feira, 24 de maio de 2016

isso ou aquilo dão no mesmo

o verão da abertura
choviam borboletas amarelas
no Rio de Janeiro
81
Fernando Gabeira
desfila tranquilo
com sua minúscula sunga
de crochê verde
pela praia de Ipanema
84
Fafá de Belém
canta fervorosa
o hino nacional
com os pulmões
explodindo de fúria
enquanto a plateia
no meio da rua
sucumbe
diante do slogan
DIRETAS JÁ!
ainda em
84
é inaugurado
com o entusiasmo 
de um cavalo
em canção agalopada
Circo Voador
seria
o palco da febril cultura
daquele tempo
85
janeiro
Rock in Rio
fez o Brasil
esquecer que era
o país do samba
essa música
seria o refrão
da juventude rebelde
por anos
foi um golpe de navalha
na cabeça
dos defensores dos
bons costumes
Ozzy Osbourne
arrancou a cabeça
de um morcego!!!
o vermelho
escorria de seus lábios
(lembro muito bem)
85
março
o arauto da democracia
Tancredo Neves
iria assumir a presidência
dia
15
nesse dia
ele abriu seus pequenos e velhos
olhos
viu Deus ou o Diabo
e fechou-os
novamente
assim
permaneceram lacrados
até sua morte em
meados de abril
88
é promulgada
a nova constituição
empolgação
diante
de uma nova era
que se abria
como cortinas cansadas
arrastadas para os cantos
deixando um inédito vento
entrar
agora
cá estamos
quase
30
anos
depois
a mesma
batalha pelo
feijão com arroz
a mesma
frustração diante
de uma existência
não compreendida pela
ciência
ah!
a maldita ciência
explica   explica
e cada vez mais
desencanta
e ninguém mais
canta
ninguém mais
sorri
ninguém mais
tem a ousadia
de chorar ao
ver a tristeza 
dançar
a mesma coisa de sempre
depois de
Gabeira
Fafá
Circo Voador
Rock in Rio
Tancredo Neves
Constituição
será que não trocamos
a ditadura de um homem só
pela
ditadura da maioria?
será que os bêbados   loucos   miseráveis   prostituas
perceberam alguma mudança?
os dentes das crianças
ainda brilham como antes
os meus
não
estão amarelos
e
podres
de tanta nicotina
vivenciei essa farsa
encenada no tablado
não elogio a tirania
tampouco
a democracia
tudo blá  blá  blá
de intelectualóide
sou poeta
e
debilóide
mero
observador
com visão
delirante
plena
de
amor



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