terça-feira, 3 de maio de 2016

a nova poesia

fui a um recital de poesia
não havia poetas por lá
somente universitárias deliciosas
declamando poemas dos outros
senti o gosto daquela poesia
maltratar minha língua
era uma poesia velha
talvez atual
mas mesmo assim velha
falava de amor através de palavras doces
excessivamente  doces
enquanto na vida o amor é amargo
uma garota se virou para mim e disse;
"o amor nada mais é que uma forma lenta de suicídio"
gostei da garota
(em outros tempos a pediria em casamento!)
e essa poesia velha
roubada de uns autores medíocres
falava do perfume da vida
do perfume da natureza
era
resumindo
uma poesia distante
embalsamada em belos frascos
que um cão da rua
ao cheirá-la
vomitaria
eu sentia o mesmo enjoo ao ouvi-la
até que me chamaram ao palco
escarrei meus versos obscenos
no rosto das universitárias deliciosas
e quanto mais escarrava
elas mais gostavam
e desabaram aplausos
e quase todas me conheciam
(ao vivo ou pelo nome)
eu não conhecia ninguém!
(em outros tempos
iria comer a buceta de todas ao mesmo tempo
numa cama gigante de um quilômetro quadrado!)
li outro poema
e mais outro
e outro
com a paixão de uma prostituta
quando passa a se oferecer de graça
ao cliente que passou a amar
essa minha poesia
pensava
(pretensioso!)
em meio aos aplausos
é a nova poesia
herdeira do maior poeta do século XX
Charles Bukowski
seus ossos apodrecidos devem estar felizes
a nova poesia
mostra
o corte
o sangue
a ferida
a despedida da vida
uma vida
que fede
atrai o estômago dos abutres
uma vida
amordaçada
somente o grito vindo do peito quase morto
pode romper um fiapo da mordaça
uma vida
em que você
se torna velho
cai e morre
num canto esquecido
enquanto
as vacas
continuam
a parir bezerros
e tudo continuará
como sempre foi
sem sua existência
o que permanece
é a moderna prece
a nova poesia
alegria
tola
de saber que nada tem sentido
somente os versos
a invadir
seu
ouvido

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