quinta-feira, 5 de maio de 2016

flor meiga

era uma garota
que gostava de amor livre
(e todo amor livre é libertino)
já tinha uns vinte
transava desde os dezesseis
com todo tipo de homens
estudantes
engenheiros
pedreiros
empresários
falsários
padeiros
açougueiros
militares
mendigos
em inimagináveis lugares
contorcida em carros de lataria enferrujada
deitada sobre latas de óleo vazias em becos imundos
amarrotada nos degraus de escadas de prédios rabugentos
de quatro em camas redondas de motéis
mais caros que todas as roupas de seu guarda-roupa
de pé atrás das santíssimas igrejas
tranquila em carros espaçosos e cheirando
perfumes adocicados
mas acima de tudo 
ela tinha uma imaginação fértil
(mais fértil que a terra à margem de um voluptuoso rio)
essa imaginação
ela usava
para se masturbar
nos dias mornos da semana sem graça
cheia de tarefas em que sentia o fedor da existência
ela delirava nesses dias
fazia tudo que lhe diziam que tinha que ter feito
como uma sonâmbula
ela somente descansava realmente
quando terrificada desabava em sua cama
com o fervor de uma santa
se despia toda
esfregava as mãos pelo corpo todo
até vasculhar entre a floresta de pentelhos
e achar seu clitóris sanguíneo
ela o massageava lentamente
começava a imaginar a chegada de
um
dois
três
homens
todos nus e de pau duro
duro como uma rocha
ela pegava com as mãos dois deles
e convidava o terceiro a derreter-se em sua boca
(de exagerado batom vermelho)
ela imaginava essa cena obscena
acelerava o movimento dos dedos no clitóris
(pulsante e ereto)
ela deslizava os dedos e os afundava na vagina
(já úmida e cheia de sede)
ela também estava com a garganta seca
seca de desejo
lembrava como era bom o gosto do esperma
descendo da língua ao estômago
ficava doida de tesão
voltava para o clitóris
 friccionava-o com valentia
ela suava
o vento noturno cooperava
penetrava no quarto erguendo as cortinas
levantava todos seus pelos
como um leque tranquilizava seu rosto
(já todo avermelhado
da cor do mais enfurecido pôr do sol)
o final necessitava de mais imaginação
os homens que ela masturbava
começam a fodê-la
colocam ela de lado
(como se fosse uma boneca de plástico
ela gostava de se sentir usada
como bom objeto de carne humana)
eles a fodem
um na buceta
outro no rabo
mais o homem que continua a chupar
(como um pirulito de framboesa longo e grosso)
e os dedos dela agora
estão espancando o clitóris
ela berra e se contorce
bate os pés singelos no colchão macio
imagina o gozo dos três homens
na sua buceta
no seu rabo
na sua boca
chega ao orgasmo
junto com os homens de sua imaginação
o orgasmo é esquizofrênico
(parece estar possuída por uma legião de demônios)
até que tudo cessa
menos o vento suave 
que a refresca
fica paralisada
mirando coisa alguma
pensa no sábado
sábado ela vai foder de verdade
com qualquer um
pois ama a todos
sem distinção de classe  cor  religião  ideologia
seu sexo é uma democracia
não é depravada nem ninfomaníaca
busca o amor
ao seu jeito
você
leitor
não acuse defeito
pense nela
como uma aquarela
em que o artista
(no caso homens)
pintam cegamente
(nem a olham)
mas ela olha atentamente
com olhar de pantera
procura apaziguar
o que há dentro dela
uma fera...
antes de dormir
fecha
a janela
a cortina
e lê uma história romântica de 
Sabrina
embaixo da poeira
uma
flor
meiga

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