sábado, 14 de maio de 2016

outro dia difícil

dia
sete
maio
apresentou-se
(como todos os dias apresentam-se)
após à meia-noite
estava tocando
violão
esmurrando
as cordas com a força
do absurdo da vida
depois
as paredes já choravam de raiva
de tanto escutar aquela
prece enervante
diante
dessa situação
mudei de opinião
devorei cigarros endemoniados
por centenas de minutos
senti
 o salto abusado da pantera sobre
 os ombros
o sabor da maçã apodrecida
nos olhos
já eram cinco horas
sem demora
esmoreci
mergulhei nas trevas
do colchão manchado de sangue
lá pelo meio-dia
despertei
com a cabeça fervendo
martelos nada singelos
a espancavam
engoli 40 gotas de neosaldina
cada hora
que passava
acordava
fugindo de pesadelos
que não recordo
mais dores na
cabeça torturada
mais neosaldina
até as quatro
quando tranquilo
(como um grilo
cantante no verão)
abracei a alegria
da disposição
mas esse poema é
sobre um dia difícil...
nem quinze minutos
depois do abraço
um bêbado insano
(como todos os bêbados sedentos por uma dose a mais)
e eu sei bem o que é isso!
esse bêbado
vende DVD's piratas
vem sempre à minha casa
compro alguma coisa dele
porque entendo o drama dos
alcólatras sem dinheiro
mas não sou pobre o suficiente
para praticar caridade!
e o bêbado
estava confuso
fizemos uma rápida negociação
ao final ele ficou
me devendo cinco reais
mas
ele queria
(em meio à algazarra alcólica)
que EU lhe desse cinco reais
exaltado gritei
(um grito de rifle ao abater búfalos na América do Norte)
explicando ao louco
toda a operação
ele não entendia nada
era uma tarde cinzenta
de vento áspero
fiquei quieto
escutei ao longe gargalhadas histéricas
de mocinhas enlouquecidas pela idade
olhei para o lado contrário
ao bêbado
vi duas senhoras de passos lentos
se esparramando pela rua
como abelhas à beira da morte
tentei ficar calmo
e o que fiz?
avancei no louco
carreguei-o com minha fúria
até o portão
ele continuava não entendendo nada!
joguei-o na calçada
uma menina desviou o
olhar   calada
o bêbado não chegou a cair
(como todo bom bêbado)
ouvi uma criança chorando
pensei no meu ato
achei melhor não pensar mais
já eram quatro e meia
corri para meu calabouço
e manchei
a página alva com
esses versos
vermelhos
pois vi nos dedos
um pouco de sangue
voltei ao
travesseiro
penei
hoje nada mais
me tira desse
desterro

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