terça-feira, 3 de maio de 2016

a poesia também é feita de desistência

indeciso
diante da página
preciso
colocar a palavra
certa no lugar certo
já tento isso há
décadas
reconheço
ainda não consegui
chegar nem perto
há uma fera africana
talvez negra
talvez loira
mas há
ela é minha loucura
seguindo meus passos
esta fera
acelera
o movimento
quer me almoçar
quer me enlouquecer
como se eu não fosse
demente o bastante
como se eu não fosse
uma tola tentativa de poeta errante
como se eu não fosse
apenas um átomo destruído
em milhões de pedaços
como se eu não fosse
uma tentativa de aceno doce
aos moribundos que vejo
se arrastando nas avenidas do sonho
como se eu também não sonhasse
em vasculhar os centímetros
de uma velha montanha
para descansar o meu lasso corpo
mas antes
devo acalmar a fera africana
de dentes claros
como a lua cheia
de garras nervosas
como a espada de um jovem em meio à guerra
e a fera
se aproxima
eu 
indeciso
diante da página que me olha
preciso
achar a maldita palavra
a se encaixar na maldita página
para satisfazer a
fera africana
ou a loucura me engolirá de vez
escrevo sobre o que
escrevo
desisto !
acendo um cigarro
olho a noite fria de maio
lembro que sofri um desmaio
fumando haxixe
durou segundos
quando vi
estava abraçado ao chão
rindo
depois
sentindo
aquele paraíso nos dentes
lembro quando depositei dinheiro
pela primeira vez
( e única! )
para minha mãe
dinheiro ganho dando aulas raivosas
de matemática para adolescentes raivosos
saí do banco
e chorei por várias quadras...
lembro que comi uma prostituta
por 5 reais   em 99
num beco cheio de garrafas estilhaçadas
cheirando a urina e vômito
foi bom
ela era grande
toda grande
devia ter uns 100 quilos!
gozei dentro dela
ela gemeu como um trovão
( me agradeceu !)
também a agradeci!
lembro mais
muito mais
nessa noite fria de maio
já não escrevo sobre o que
escrevo
somente tento
fazer dessas lembranças
um álbum de fotografias
revestidas com minha
tentativa
de 
poesia

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