segunda-feira, 9 de maio de 2016

irritantes metáforas sobre a insônia

a noite recebe um cruzado de direita
no queixo
adoece
cai 
lentamente
enquanto o dia
retira a poeira dos ombros
tranquilamente
a noite beija a lona
o dia transborda
limpo
claro
frio
cinza
(me irrito com toda essa poesia dedicada
a um ato tão banal)
é que 
estou irritado
como uma esposa histérica
em meio aos filhos do demônio
estou irritado
porque acordado
nessa hora furiosa
preciso escrever
para as pálpebras deitarem
mas não sei
sobre o que gritar
pois
insone
confuso
perdido
teço o poema
sobre o que vejo
aqui da janela
do quarto falecido
o que vejo 
é a aurora
que quase nunca observo
(estou sempre embriagado de sono perpétuo)
também não gosto dessa hora
nem de descrevê-la
com tolos floreios poéticos
quem sabe os que me leem agora
gostaram dos primeiros versos
eu não!!!
mas vai ficar assim mesmo
(nunca reescrevo)
o que me mata
é essa traça
a roer por dentro
me
irrita
estou com olhos escancarados há mais de vinte horas
eles estão
vermelhos
lacrimejantes
tensos
exaustos
a coluna aos frangalhos
a nuca berrando
os ossos rangindo
os lábios de um roxo pálido
e a maldita manhã
aparece
eu não durmo
sou um lutador de boxe
encurralado nas cordas
recebo pancadas sucessivas 
na cabeça atordoada
escorre sangue
do supercílio
dos ouvidos
do nariz
não caio
quero cair
não caio
quero desmoronar
correr para a desmilinguida cama
dormir por anos a fio
(já me perdi com tantas metáforas)
já não sei se sou um poeta insone
ou um lutador rezando pelo nocaute
e a noite tombou com um belo golpe de direita
levantou-se esse dia cinzento de maio
ah! não sei mais de nada!
preciso acabar essa porra de composição para
esquecer
que
esqueci
de apagar
a luz
do meu
cansaço
puxar o cobertor
sair dessa realidade irritante
entrar num sonho de amor

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