quarta-feira, 15 de junho de 2016

o amante esfomeado

seu
nome
era
Ana Trovão
me
sentia
um
Zé Raio
ao
seu
lado
ela
rica
filha
de
magistrado
eu
esfarrapado
bêbado
cocainômano
estudante
vadio
da
Federal
anormal
lendo
Ginsberg
a
noite
inteira
rabiscando
poemas
nas
paredes
sujas
do
banheiro
ela
formada
artista
plástica
antropóloga
ela
toda
errada
cintura
gorda
peitos
caídos
coxas
grossas
canelas
finas
rosto
de
uma
asiática
consumidora
de
ópio
encoberto
por
excessiva
maquiagem
formávamos
um
casal
e
tanto!!!
ela
era
ruim
de
papo
e
pior
na
cama
(por que estava com ela?)
acho
que
era
fome
pensava
em
comida
naquela
época!!!
vivia
faminto
vagando
pelos
corredores
insípidos
daquela
universidade
e
ela
me
proporcionava
três
refeições
por
dia!!!
em
confeitarias
de
classe
em
restaurantes
finos
franceses
italianos
japoneses
ela
escolhia
os
pratos
(eu não sabia sequer pronunciar
o nome daquelas coisas)
a
fome
era
tanta
que
achava
tudo
ótimo!!!
vivi
como um duque
naqueles meses
e
pedia
vinho
garrafas
e
garrafas
de
vinho
aquela
comida
toda
aquele
vinho
todo
borbulhava
no
estômago
normalmente
vomitava
um
pouco
no
banheiro
ou
pela
janela
de
seu
carro
importado
ela
estava
apaixonada
sentia
isso
quando
ela
gozava
e
mordia
feroz
meu
pescoço
o
sangue
da
paixão
escorria
até
o
colchão
imundo
cansei
da
comida
vinho
aquele
papo
vazio
aquele
sexo
frio
era
preciso
por
fim
àquilo
preferia
minha
miséria
estava
me
vendendo
como
um
garoto
de
programa
mas
Ana Trovão
inundava
as
faces
d'água
toda
vez
que
eu
falava
no
assassinato
daquela
folia
fui
obrigado
a
não
atender
o
interfone
fugir
correndo
(correndo mesmo!!!)
quando
ela
me
achava
em
algum
lugar
e
olhe
ela
procurou
e
procurou
muito
sempre
fugia
mas
havia
outra
saída
juntei
centavos
lhe
enviei
flores
e
um
poema
de
despedida
funcionou
nunca
mais
a
vi
ela
era
mais
uma
burguesinha
carente
e
eu
Zé Raio
faminto
penetrei
em
seu
mundinho
fiz
Ana Trovão
sapatear
no
céu
frustrada
com
os
caminhos
da
vida
tudo
por
causa
de
um
prato
de
comida


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