quinta-feira, 16 de junho de 2016

cabeça

ela
dói
como se tivesse sido
espancada por martelos
ferozes
ela
dói
como um sino a badalar
nas entranhas da
mente
e
o
neurologista
me
disse
algum
tempo
"o problema de sua enxaqueca é o tabaco"
saí
do
consultório
o
vento
vasculhou
o
vasto
cabelo
olhei
a
nuvem
preta
pensei
"ele é um idiota!"
dor
sanguinolenta
na
minha
cabeça
desde
os
3
iniciei
o
processo
de
intoxicação
aos
18
(então   por que diabos
o crânio latejava dos
3 aos 18?)
e
mais
mesmo
aceitando
sua
teoria
continuaria
engolindo
o
Marlboro
delícia
percorre
veias
quando
trago
delícia
quando
solto
a
fumaça
cinzenta
foi
o
que
fiz
depois
de
admirar
a
nuvem
escura
suporto
a
dor
com
extrema
facilidade
nesse
momento
a
cabeça
explode
e
escrevo
com
a
mão
direita
entre
um
verso
e
outro
a
esquerda
com
a
brasa
fervendo
belisca
meus
lábios
e
esses
médicos
não
estudaram
filosofia
não
leram
Georges Canguillen
não
dialogam
apenas
monólogos
estão
presos
como
está
presa
uma
prostituta
à
esquina
garota
trabalhando
erguendo
a
saia
quando
passa
um
carro
e
fumando!
esses
médicos
explicam
a
dor
não
sabem
patavinas
sobre
a
origem
e
a
superação
do
tormento
Canguillen
sabe
ele
ajuda
o
ser
a
viver
a
rasgar
o
manual
da
medicina
com
dedos
furiosos
o
glorioso
ofício
é
uma
das
maiores
tragédias
da
história
da
humanidade
leitores
deem
risada
de
sua
enfermidade
mostrem
os
dentes
ao
espelho
mostrem
olhos
faiscantes
às
paredes
deixem-se
levar
pelo
sofrimento
quando
o
máximo
do
terror
se
instalar
dancem
ao
som
de
uma
boa
canção
nada
de
lamento
em
pouco
tempo
suas
unhas
se
prenderão
às
rochas
da
montanha
até
alcançar
aquela
nuvem
que
vi
ao
sair
do
consultório
na
nuvem
preta
irão
descansar
e
sem
dor
irão
contemplar
a
tempestade
 

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