quarta-feira, 15 de junho de 2016

14

café
da
manhã
o
pai
fala
a
mãe
fala
o
irmão
mais
velho
fala
a
menina
de
14
não
se
despede
com
um
aceno
quase
obsceno
cheia
de
tédio
tristeza
rebeldia
caminha
solta
catarro
na
calçada
bem
em
cima
de
uma
gorda
formiga
preta
sádica
fica
ali
paralisada
observa
a
poesia
desesperada
da
formiga
engolida
por
aquela
gosma
amarelo
esverdeada
continua
o
trajeto
contente
com
seu
assassinato
chega
ao
colégio
saúda
suas
amiguinhas
depravadas
com
urros
esquizofrênicos
suas
amiguinhas
cheias
de
tédio
tristeza
rebeldia
o
dia
se
revela
um
espancamento
na
retina
a
menina
de
14
observa
a
poesia
do
mundo
cinzento
solta
outra
catarro
no
piso
da
sala
de
aula
professor
reprova
sua
atitude
é
convidada
a
falar
com
a
pedagoga
ela
solta
outro
catarro
no
sapato
de
salto
alto
vermelho
da
pós-graduada
observa
a
poesia
das
cores
fundidas
a
gosma
colorida
no
vermelho
paixão
a
pós-graduada
está
de
aos
gritos
como
toda
pedagoga
ela
chama
a
diretora
(outra pedagoga histérica)
a
menina
de
14
está
distante
observa
a
poesia
de
um
canário
pisando
e
cantando
sobre
seu
próprio
excremento
a
menina
de
14
é
suspensa
telefonam
para
seus
pais
eles
chegam
atordoados
por
terem
saído
de
sua
rotina
a
menina
de
14
solta
outro
catarro
no
vestido
azul
de
sua
mãe
observa
a
poesia
do
choque
da
mão
de
seu
pai
no
seu
rosto
rosado
não
chora
os
encara
escarra
no
piso
limpo
daquele
colégio
decadente
solta
gargalhada
em
direção
ao
céu
cinza
atônitos
a
pedagoga
a
mãe
o
pai
observam
a
poesia
daquela
menina
de
14
cheia
de
tédio
tristeza
rebeldia

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