sábado, 23 de abril de 2016

em homenagem às deusas egípcias

aturdido
pelo tédio a entrar nos
ouvidos
não encontro a paz nem
motivos
para a guerra
estendido
sobre a cama que me abraça e me sufoca
não sabendo se levanto   corro   e   grito
ou se escrevo a descrição do suspiro
que lembra o sussurro inquieto de uma velha árvore
quando sente o machado lacerar sua carne
opto pela angustiada poesia de abril
na qual os pássaros embriagados de sol
se arrebentam nas janelas do meu quarto
abro cortinas com a selvageria de quem
abre as pernas de uma puta histérica
a rua está tão deserta quanto
o coração de um caçador solitário na África
lembro que ontem
inebriado do cansaço das 24 horas em estado de vigília
acompanhou minha viagem de ônibus   
uma elegante deusa egípcia
sentei no banco atrás dela
com a mente cuspindo pedaços de desejo
observei
ela era magra
mas tinha pontiagudos seios totalmente escancarados à visão
devido ao decote profundo
de seu corpete
hipnotizado por aqueles peitos
dentro da minha confusa cabeça
o mais nefasto estava por vir
ela desceu majestosa no mesmo ponto que eu!
a deixei seguir em frente
observei mais
ela tinha pele bronzeada
cabelos escuros
pernas trancafiadas por um jeans apertado
cintura esquálida e ancas generosas
a segui
como um inválido a rastejar faminto em busca de um mísero farelo de pão
já não entendia nada
ela percorria o caminho que ia à minha casa!
até a última esquina torturante
em que invadiu soberana minha rua!
e seguiu andando
ela sabia que eu estava atrás dela
eu sabia que ela estava gostando de ser degustada
por meus olhos insones   insanos   e   avermelhados
e não é que ela entrou numa casa
uns poucos metros antes da minha?
oh! eu me despedi em sonho da deusa egípcia
não conseguia compreender
como uma barata vítima de inseticida não compreende porque morre
o que ela foi fazer naquela casa?
ela não mora na minha rua!
(isso eu tenho a desgraçada certeza)
quem é ela?
abri furioso o portão abestalhado
o sol se agarrava nas minhas inocentes costas
cheguei ao quarto miserável
mais miserável que o mais pobre dos homens desse planeta
o colchão me chamou
me entreguei às trevas do sono
tinha esquecido dela até o momento
em que comecei a escrever esse poema
(que já rugia nas minhas vísceras desde a alvorada)
e brincando com as poças de lama do meu tédio
nessa pavorosa tarde de abril
lembrei do fato
principalmente daqueles enormes seios
 faca rasgando o ar a sua frente
não sei se a verei novamente
não sei se irei amar novamente
não sei se viverei muito tempo
somente sei
. que enquanto vivo
poemas farei
em homenagem a essas
deusas egípcias
de seios grandes e firmes

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