terça-feira, 5 de abril de 2016

fúria

dias difíceis
contemplo o que fiz
em meu braço com a gillete
deixei cicatriz
releio os romances
de Machado de Assis
treino algumas notas
em meu tímido violão
já são quase 2 da manhã
e amanhã promete
ser mais um dia quente
na minha já quente cabeça
em meio a tudo isso
dedico aos meus ouvidos
o som furioso da banda punk Nirvana
comprei um livro sobre
a história do movimento punk
gravei várias músicas
de várias bandas punk
escrevi um poema 
sobre os poetas e os punks
ainda espero o fim da timidez do meu violão
ainda esse mês quero tocar hinos punks
e numa fúria
convulsiva
espermicida
inseticida
homicida
suicida
vou arrancar esta depressão
que me entristece
que tece minha jornada fúnebre
que permanece
triturando meus ossos
provocando destroços
em volta das minhas
já cansadas asas
pois sou uma tentativa desesperada de poeta
e nesta estrada não caminho
sou alado
vislumbro do alto
o cadafalso
em que as pessoas estão mergulhadas
eu    nada
sou tudo
uma espécie de absurdo
a flutuar sobre os telhados da cidade
como uma folha seca   vagando
solitária   por entre as casas
a depressão
o punk
a cicatriz
Machado de Assis
o calor de fevereiro
a fúria
me move por inteiro
me faz voltar ao belo voo
que autêntico artista escreve
como a neve
pintando de branco
o que antes era 
escuridão

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