segunda-feira, 25 de abril de 2016

queimar e afogar

queimando-se na água
afogando-se na chama
sentado no sofá azul
admirado com o cruzar das
longas pernas de Betty
nas mãos o copo de whisky
entre os dedos o cigarro
e sua cortina de fumaça
em direção ao céu
lá fora pessoas cinzentas
indo pra lá e pra cá
não entendo o porque disso
pessoas em prédios
os prédios engolindo as pessoas
alguns fazem caminhada
ou correm depois das seis
(preocupados com a saúde!)
eu
fumo
bebo
ouço
Dominguinhos
e não tenho medo da morte
prefiro me enfiar entre as pernas
brancas de Betty
louco no sofá azul
arranco com os dentes sua calcinha molhada
ela sorri
derrama sua taça de vinho tinto em minhas costas
eu me afogo nesta chama
tropeço 
desabamos os dois no chão
damos risadas
nos amamos no tapete cheio de poeira
já é noite
ainda há alguns insanos
andando ou correndo na BR
(vã tentativa de controlar a vida)
enquanto outros
bêbados   mendigos
passam a garrafa de vinho barato de mão em mão
em meio aos ratos e as garrafas quebradas de um beco moribundo
talvez a verdade esteja com eles
me queimo na água
mergulho
saio ferido
olho novamente para Betty
ela está absorta
lendo uma revista de moda
olho para fora
vejo as árvores dos deuses
encarquilhadas como uma velha de noventa anos
vejo as adolescentezinhas e seus gritinhos
se contorcendo
como minhocas brotando da terra
me queimo na água
ela é muito pura
minha Betty não é nada pura
somente beleza
nada de pureza
escreva:
"a vida é absurda
afogar-se na chama
é delito sagrado
deve ser mantido
este enlace
entre
o
fazer nada
nada fazendo
e
como distração
ter à mão
um vermelho copo de whisky
um cigarro de filtro amarelo
e
uma
boa
puta"

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