segunda-feira, 25 de abril de 2016

para minha querida ex-psicóloga

fiz terapia com vários psicólogos
todos seguidores de Carl Jung
o qual apesar de algumas boas ideias 
não me identifico nem um pouco
afinal ele mesmo diz que sua psicologia
é destinada aos problemas do homem cristão
não me incluo nesta turma
(estou introduzindo o assunto)
ele não tem relação com a psicologia
a relação é com a psicóloga chamada Shirley
ela já me conhecia
foi minha vizinha na infância
não lembrava de nada disso
o que houve foi uma incontrolável ânsia de possuir aquele corpo
ela falava
eu respondia
mas eu somente pensava naquele corpo!
à noite  ardia
afogado na fogueira do desejo
ela era casada
não ligava
após cada sessão
me masturbava
(como fera doente por fêmea no cio)
me masturbava por toda a semana
até o próximo encontro
em que ela muito falava
nada ouvia
imerso na observação daquela mulher
(pele branca coberta por cabelos negros
lábios repletos de carne vermelha)
imaginava aqueles lábios beijando a cabeça do meu pau
ela seguia discursando
às vezes levantava
idolatrava esses momentos
ela mostrava suas generosas pernas
atarraxadas dentro de uma calça jeans
aquela cintura fina dando origem àquele rabo enorme
e os peitos suculentos balançando
ao ritmo de suas passadas  lentas
esquecia de tudo
(realmente ela me curava de todos os problemas psicológicos!)
mas eu sabia
ela não estava ao meu alcance
certo dia
declarei a ela que me deixava excitado
ela  de face avermelhada
mostrou-se contrariada
falei que estava tendo problemas
com alguns traficantes
e iria matar a família inteira de um deles
(o que era verdade)
lá fora o sol das duas
me recordava que o melhor a fazer
era engolir uma cerveja gelada
ela cada vez ficava mais irritada
ficou de vez
quando disse que nessa família havia uma criança de colo
(iria executá-la também)
"não pode sobrar testemunhas"
eu disse
"mas um bebê?"
ela disse
"ele pode crescer e me matar!"
eu disse
"você é um marginal"
ela disse
e me dispensou meia-hora antes do fim do horário
eu achei bom
não aguentava mais desperdiçar tanto esperma no lençol 
(olhei para o sol e disse boa-tarde)
cheguei ao bar
olhei para o garçom e disse:
"acabei de perder uma mulher que nunca ia ter!
diante dessa escassez nada melhor que uma embriaguez!
desce uma!"
o garçom foi buscar minha bebida
sentia o vento afagar minha face
fiquei triste por Shirley e nossa desenlace
por trás dessa escrita devassa
há um poeta
na superfície
demente
no fundo
carente
(como toda a gente
perturbada do nosso tempo)
dei o primeiro gole
caiu uma lágrima
em minha camiseta
pensei
esqueça!
mas 
até
hoje
não 
esqueci
Shirley

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