quarta-feira, 20 de abril de 2016

a loucura avança teimosa

mesmo murcho
como as leguminosas do quintal
num lamento diante do sólido sol de abril
vem euforia
espancando meu estômago
e das nuvens anêmicas
escorrem rosas
há chuva de flores
sobre minha pele
tensa e ressecada
ouço o ritmo do reggae
vindo do vizinho
danço e canto
esvoaçante
leio os livros
de Gabriel García Marquez
e lanço à página meus versos doidos
fervorosos como a prece mais autêntica
de uma freira açoitada pelos pensamentos do demônio
esses versos vasculham a página
com patas de cavalo
eles correm
logo percebem
que não tem o que dizer
sua própria corrida é seu discurso
minha própria vida é um poema !
assim cancelo a tentativa
pois já disse tudo
a poesia de um poeta
transcende a palavra
é antes sua trajetória
despreocupada e inglória
cada ato seu
é uma sílaba
que revela seu próprio "eu"
as cinzas
do incêndio que ele é
são esses versos jogados na página
um pequeno pedaço
do fogo que lhe rasga
e nunca o mata
sempre o renova
que
na terra ensopada
fazem surgir um cogumelo
um fruto singelo
do seu coração
de demência repleto
mas com percepção
de andarilho esfomeado
que sabe
em qual porta bater
afim
de obter
sua 
migalha
diária

Nenhum comentário:

Postar um comentário