terça-feira, 5 de abril de 2016

arte e filosofia

quero fazer
um poema grande
imenso
intenso
descontrolado
desconcertante
gritante
singelo
cretino
um desatino
um colapso
 lapso
festivo
alegre
incrível
farto de
palavras gordas
palavras barrigudas
agudas
nada cisudas
tudo brilhante
tudo audacioso
nada ocioso
um poema
terrível
assustando
bocas pequenas
lábios magros
bochechas flácidas
olhos cinzentos
um poema que
como lente de aumento
esquente o sol
na pele da formiga
vermelha e operária
o pior dos operários é melhor
que a melhor formiga
porque somos livres
temos escolha
escondida na sacola velha
carcomida por anos de labuta
nem a aranha mais astuta
esculpe uma teia melhor
que a armadilha da mais ingênua puta
por isso
devido à liberdade
posso fazer um poema
grande
inquieto
indecente
descrente
incorreto
um tormento
um terremoto
um vulcão (em erupção)
um miado de gata no cio
no ato da festiva cópula
um poema
intrépido
insolente
displicente
nada sério
todo sorriso 
um aviso
de que nem sempre
a filosofia tem razão
uma liberdade
rabiscada no chão da tarde
um arte sem a consequente angústia
imanente a toda ação 
libertária
o sol racha minhas costas e minha poesia não é
solitária

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