ainda viva está a vida
viva a roupa rasgada
viva o lenço sujo
viva o peido da empregada
viva o abraço do traidor
viva o arroto do empregado
viva a falência do amor
viva a flecha que matou a esperança
viva o saxofone que despertou a putaria
viva a hipocrisia da caridade
viva a lâmpada queimada
viva a faca que despedaçou a fé
viva o epitáfio da ciência
viva o cachorro abandonado
viva a dormência do cidadão
viva o spray que rabisca o muro
viva a intolerância do mundo
um viva
para o sabor impuro que adoça a boca
para o rádio sonolento que machuca a carne
para a casa própria que desaba um pouco
(a cada dia)
para a psiquiatria que adoece muito
(a cada cliente)
para a borboleta presa na poça de lama
para a criançada solta na cidade dos adultos carentes
para a gengiva sem dentes
para o vilão da novela
dois vivas
um pra mim
outro pra ela
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