segunda-feira, 3 de outubro de 2016

mais uma noite

em
um
lado
da
cidade
cães
brigam
entre
eles
e
com
as
formigas
por
ossos
sem
uma
gota
de
carne
em
outro
lado
o
novo
prefeito
discursa
eufórico
para
multidão
mais
eufórica
ainda
com
suas
bandeiras
coloridas
gritos
histéricos
e
as
prostitutas
foram
embora
e
calafrio
nos
dentes
dos
indigentes
mergulhados
na
cachaça
barata
em
outro
lado
da
cidade
ruas
cercadas
por
casebres
de
papelão
no
outro
lado
imensas
residências
cercadas
por
muros
de
4
metros
de
altura
vozes
em
seu
interior
mas
é
apenas
o
som
da
TV
e
moças
apetitosas
sedutoras
em
seus
olhares
infantis
entregam
gratuitamente
folhetos
até
livros
borrifados
pela
palavra
de
Deus
e
uma
delas
além
disso
entrega
chocolates
recheados
ela
possui
olhos
verdes
é
muito
simpática
participa
de
um
grupo
de
oração
na
catedral
e
aquele
garoto
da
loja
de
discos
emite
faíscas
através
de
sua
pele
pálida
que
atravessam
sua
vestimenta
comportada
ele
que
é
guitarrista
de
rock
também
é
cristão
canta
Simpathy for the Devil
com
seu
inglês
perfeito
mas
não
sabe
o
teor
da
letra
da
canção
ou
seja
canta
hinos
em
louvor
ao
diabo
e
entoa
cânticos
em
louvor
a
Cristo
e
não
sabe
também
que
as
prostitutas
foram
embora
nunca
experimentou
o
sabor
de
suas
bucetas
largas
nem
observou
a
nobreza
dos
cães
da
rua
muito
menos
compartilhou
uma
garrafa
de
cachaça
barata
com
os
indigentes
largados
ao
vento
ele
mora
numa
daquelas
residências
imensas
e
votou
no
candidato
vencedor
ele
será
um
vencedor
cursa
publicidade
em
faculdade
particular
terá
muito
dinheiro
casará
com
uma
virgem
terá
filhos
plano
de
saúde
seguro
de
vida
casa
própria
carro
do
ano
e
continuará
tocando
sua
guitarra
o
que
ele
vai
dizer
através
 dela
será
o
retrato
da
SEGURANÇA
de
sua
vida
um
dizer
cheio
de
TÉCNICA
a
escapar
dos
seus
dedos
murchos
enquanto
a
TV
permanece
ligada
e
a
festa
democrática
continuará
os
indigentes
continuarão
cada
vez
com
mais
frio
nos
lábios
e
mais
cachaça
no
estômago
e
o
dilema
se
apresenta
enquanto
o
relógio
cavalga
rumo
à
alvorada
o
rifle
descansa
encostado
na
parede
as
pernas
cruzadas
suadas
marcadas
pelo
delírio
da
febre
descansam
sobre
o
colchão
assassinar
o
garoto
da
loja
de
discos
ou
assassinar
o
novo
prefeito
pode
ser
uma
opção
a
outra
é
movimentar
o
corpo
procurar
no
labirinto
escuro
os
vestígios
das
prostitutas
ir
até
à
margem
gelada
do
rio
procurar
os
indigentes
beijar
fervoroso
suas
faces
ou
optar
por
vasculhar
entre
os
escombros
dessa
noite
angustiada
os
olhos
verdes
e
simpáticos
daquela
evangelizadora
a
distribuir
doces
nas
esquinas
  malignas 
o
dilema
estrangula
ou
é
sangue
na
camiseta
branca
ou
cansaço
nos
pés
quem
sabe
assassinar
os
dois
ou
quem
sabe
abraçar
e
ser
abraçado
por
uma
prostituta
quem
sabe
gargalhar
ao
ver
o
dia
nascer
ao
lado
dos
indigentes
ou
ainda
quem
sabe
pedir
em
casamento
aquela
moça
de
olhos
verdes
conduzi-la
ao
altar
e
dizer
sim
ao
padre
é
uma
confusão
infernal
que
não
arrefece
tece
sua
mortalha
sem
piedade
a
respiração
tropeça
tudo
torna-se
nebuloso
mas
ninguém
se
importa
os
fogos
de
artifício
explodem
nessa
noite
angustiada
e
o
novo
prefeito
e
aquele
garoto
devem
estar
dormindo
em
PAZ


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