segunda-feira, 10 de outubro de 2016

a farsa nossa de cada dia

o
ator
encarou
a
plateia
cinzenta
cuspiu
no
chão
empoeirado
do
palco
gargalhou
girando
a
cabeça
e
caminhou
lentamente
até
o
camarim
ouviu
um
silêncio
incrédulo
vindo
da
plateia
ele
estava
no
meio
de
um
tedioso
monólogo
que
ele
mesmo
escreveu
de
forma
mais
tediosa
ainda
logo
ouviu
urros
das
pessoas
cinzentas
barulhos
de
corpos
se
contorcendo
nas
elegantes
poltronas
passos
sonoros
se
dirigindo
à
saída
reclamações
raivosas
se
dirigindo
ao
bilheteiro
mais
cinzento
ainda
e
o
ator
solitário
acendeu
seu
cigarro
e
com
a
chama
do
isqueiro
incendiou
as
cortinas
de
um
vermelho
crepúsculo
o
elenco
o
produtor
invadiram
a
sala
mas
se
retiraram
em
doido
galope
diante
do
fogaréu
tudo
queimava
em
torno
do
ator
solitário
mas
nada
aquecia
sua
vida
vazia
não
sentiu
a
pele
derreter
nem
o
cabelo
olhos
pernas
braços
mais
todo
o
resto
que
ardia
o
ator
solitário
sorria
enquanto
desaparecia
junto
com
todo
o
solene
teatro
municipal
lembrou
de
sua
desastrosa
estreia
no
tablado
lembrou
de
sua
detestável
família
que
o
aguardava
numa
casa
cinzenta
lembrou
que
não
tinha
nenhum
amigo
sequer
um
cachorro
um
gato
ou
um
periquito
lembrou
da
vida
que
havia
levado
e
achou
que
tudo
foi
bom
era
hora
do
ato
final
sua
última
encenação
num
mundo
que
nada
lhe
disse
lembrou
então
que
o
mundo
insultou
suas
bolas
mas
ele
por
sua
vez
insultou
as
bolas
do
mundo
e
percebeu
no
segundo
final
da
calamidade
a
transforma-lo
em
cinzas
gostava
de
todos
mas
não
foi
possível
um
contato
verdadeira
que
a
FARSA
esteve
presente
em
todos
os
locais
em
que
naufragou
seus
tímidos
pés
atuava
mais
fora
do
palco
do
que
dentro
dele
percebeu
no
momento
que
o
fogo
engoliu
sua
língua
a
incomunicabilidade
de
nosso
mundo
cinzento
no
qual
a
falsidade
é
sinal
de
boa
educação
e
a
verdade
é
sinal
de
grosseria
finalmente
desmoronou
o
esqueleto
em
chamas
sorria
enquanto
o
público
cinzento
em
gritaria
protestava
apesar
de
que
ninguém
estava
interessado
em
assistir
aquela
peça
tediosa
estavam
ali
talvez
por
não
saber
onde
ir
coisa
comum
nessa
nossa
comédia
entristecida
em
que
até
as
árvores
dormem
cedo
e
os
cães
de
rua
são
os
únicos
felizes
na
noite
enluarada
e
o
ator
solitário
tornou-se
fumaça
amanhã
haverá
a
encenação
de
sempre
com
todos
dizendo
que
ele
foi
um
homem
maravilhoso
quando
na
verdade
ele
foi
mais
um
filho da puta
nesse
mundo
em
que
ninguém
diz
isso
num
enterro
QUE FARSA!!!


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