sexta-feira, 14 de outubro de 2016

um acontecimento

isolado
no
lado
escuro
da
vida
apesar
do
sol
fazer
moradia
na
cabeça
vazia
e
eu
não
acontecia
até
que
vi
uma
moça
obesa
 em cima 
de
uma
motocicleta
esquálida
tentando
e
tentando
estacioná-la
numa
minúscula
vaga
entre
outras
motocicletas
estas
gordas
subitamente
a
moça
obesa
desaba
para
um
lado
beijando
o
asfalto
quente
com
seu
imenso
corpo
e
emitiu
gemido
alto
e
corri
desajeitado
ao
seu
encontro
oferecendo
ajuda
mas
ela
enfurecida
recusou
disse
que
sua
existência
era
uma
MERDA
e
que
pretendia
ficar
ali
derretendo
sob
o
sol
da
primavera
contemplando
sua
magra
motocicleta
que
também
era
uma
MERDA
e
agonizava
ao
seu
lado
ofereci
então
um
cigarro
ela
disse
que
não
fumava
mas
aceitou
e
sorriu
mostrando
a
tristeza
de
seus
dentes
perguntei
se
podia
sentar
ela
respondeu
que
sim
desde
que
ficasse
em
silêncio
e
assim
ficamos
por
uma
meia hora
num
pacto
calado
de
solidariedade
sendo
assados
pelo
sol
atrevido
sendo
alvo
dos
olhares
curiosos
dos
pedestres
apressados
em
sua
nervosa
calmaria
a
viatura
com
suas
luzes
vermelhas
se
aproximava
percebemos
o
incômodo
chegando
a
passos
largos
ela
se
levantou
toda
torta
e
agarrou
sua
motocicleta
esfarrapada
eu
fiquei
assistindo
sua
veloz
escapada
e
os
agentes
da
lei
passaram
por
mim
com
suas
expressões
de
ódio
os
fuzilei
com
minha
expressão
de
isolamento
eles
se
dirigiram
para
o
horizonte
da
avenida
ensolarada
acendi
outro
cigarro
conclui
que
a
moça
obesa
é
uma
fêmea
muito
interessante
em
sua
insatisfação
indiscreta
em
sua
carne
gordurosa
enfim
abandonei
o
local
invadi
a
praça
e
na
sombra
de
uma
árvore
sofredora
senti
saudade
daquela
moça
obesa
que
pouco
falou
apenas
fumou
com
um
estilo
digno
da
mais
alta
nobreza
francesa
do
século
XVIII
que
como
ela
estava
afundada
na
MERDA

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