quinta-feira, 13 de outubro de 2016

certa Dona   certo velho   certo Deus

a
Dona Morte
com
suas
botas
de
vaqueira
e
sua
jaqueta
de
couro
de
jacaré
espreita
a
casa
feia
e
adormecida
o
velho
na
escuridão
suplica
para
aquele
Deus
antes
tão
vingativo
agora
todo
amoroso
o
velho
mira
a
cruz
ensanguentada
coça
os
testículos
e
reclama
da
incompetência
médica
o
velho
ruminando
impaciência
lança
um
olhar
furioso
em
direção
à
janela
observa
seus
vizinhos
jogando
conversa
fora
em
pleno
meio-dia
de
um
tedioso
 e
 nublado
feriado
o
velho
mais
furioso
fica
na
solidão
de
sua
agonia
coça
com
dedos
de
camponês
os
testículos
aquecidos
pela
doença
de
uma
maneira
feroz
até
sentir
pedaços
de
pele
dormirem
sob
as
unhas
acho
que
o
velho
está
morrendo
e
acho
que
aquele
Deus
também
está
morrendo
tamanha
é
sua
compaixão
pelas
criaturas
que
o
PERFEITO
corpo
apodrece
as
orelhas
bicadas
por
urubus
não
escutam
a
súplica
agonizante
do
velho
agoniado
e
a
Dona Morte
sorri
pois
em
breve
mais
uma
criatura
se
tornará
sócia
de
clube
 
  

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