estilo
numa das esquinas da minha vida
entrei no curso de ciências sociais da UFPR
foi um tempo de pensamento e loucura
estudei sociologia política antropologia
estudei Weber Marx Lévi-Strauss
bebi quilômetros de cerveja
com o sol deitado no balcão sobre mocas azuis
eu Rayan e o poeta João
no bar do espanhol
lá aprendi mais coisas que dentro das jaulas da universidade
tão decadente quanto um gato velho todo despedaçado
lá discutíamos o que os professores moribundos
como mendigos em sua última prece
falavam falavam falavam
lá aprendi com João poucas mas belas coisas sobre poesia
nos dias mais inspirados diante daquela tediosa e recatada Curitiba
onde nada acontece
apesar de não acontecer nada em lugar nenhum
(nós fazíamos acontecer)
porque é você que tem que acontecer
porque o mundo é realmente um lugar horrível de se estar
(você pode me perguntar: comparado a que?)
eu diria: ao não-mundo
nos braços rosados e longos da imaginação
ela pode lhe transformar num poeta ou num bêbado
ou nos dois
mas ia dizendo
nós acontecíamos
misturávamos à cerveja
quilos de cachaça
esse líquido transparente enlouquecedor
e enlouquecidos
ou subíamos nas mesas
ou chutávamos cadeiras
ou seduzíamos ninfetas
ou brigávamos com os namorados das ninfetas
ou esmagávamos as moscas
ou declamávamos poemas
ou saíamos correndo até outro bar
ou gritávamos:
"foda-se Marx
foda-se Weber
foda-se Lévi-Strauss
foda-se Carlos Drummond de Andrade
fodam-se os irmãos Campos"
e algumas ninfetas eram seduzidas
ficavam amolecidas
como um bife batido
por nossa demência
nós comíamos essas garotas
enfim alguma recompensa
depois daquele esgotamento
daquele suor de cerveja e cachaça
desabando da testa fazendo arder os olhos
elas ficavam agradecidas
(beatas diante da dádiva dos deuses!!!)
nós éramos loucos literalmente
todos tomavam Lítio 300 mg
mas éramos delicados com as garotas
tínhamos o que poucos tem
estilo
depois de tudo
com a noite engolindo nossos corpos
ficávamos pensando
em tudo
aquilo
nosso
estilo
Nenhum comentário:
Postar um comentário