segunda-feira, 28 de março de 2016

um poema de amor

                                                                         a Joana Corona

fique comigo
uma vez a cada dia
ou uma vez a cada semana
ou uma vez a cada mês
ou uma vez a cada ano
ou uma vez a cada década
mas fique   fique   fique
comigo
mais uma vez
venha de onde for
que esteja
amor
venha
em forma de cinzas
em forma de corpo
em forma de coração
em forma de olhos
em forma de boca
venha
de você somente tenho lembranças
elas teimam em se apagar
eu luto para manter preso em minha memória
seu sorriso
seu olhar
sua voz
eu choro e grito na madrugada calada
reivindico
sua presença nos meus sonhos
lá lhe encontro viva   ardente   falante
como antes
naqueles tempos de nossa paixão secreta
abertas nossas bocas se encontravam
a cada esquina
você ainda menina
você e eu molhados pela chuva
chegando ao apartamento
com frio   vinha arrepio   e   tomávamos um banho quente
em baixo d'água minha barba era feita por suas mãos
nós nos beijávamos sob aquele temporal de gotas de fogo
nós nos enxugávamos com nossa toalha vermelha
como o sol se pondo num dia de verão   lembra?
depois eu lia meus poemas
seus olhos azuis cresciam
seus pelos se ouriçavam
quando a noite fervia em nossa pele
nos amávamos por horas
até as cores da aurora invadirem o quarto
repleto de roupas jogadas   que assistiam tudo
nós fumávamos um bom baseado
e dormíamos agarrados
para não nos perdemos um do outro
mas você desapareceu
porque seu coração cansou e parou
e eu fiquei cansado e parado
desde então
fique
fique comigo
mais uma vez
retorne
sei lá como 
mas retorne
ou vou ao seu encontro
com um corte
nos pulsos   mergulho na morte
acho você   ou talvez não
acho que não é uma boa idéia
mas fica aqui registrado
meu tolo pensamento suicida
em busca de uma melhor vida
(enquanto isso   a chuva cai lá fora
abro uma cerveja   acendo um cigarro
esboço uma certa felicidade
por ter escrito isso
com toneladas de saudade)  
 

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