sexta-feira, 18 de março de 2016

a espera

espero a morte
com a paciência
de uma aranha
tecendo a teia
são de areia
os meus versos
o vento venenoso
fará com que desapareçam
não verei meu fim
somente os outros verão
vi a morte de minha mãe
vi a morte de meu amor
vi a morte de um cachorro
(doente no asfalto entediado)
vi a morte de um sapo
(gordo   torturado   e   jogado   no   esgoto)
acendo um cigarro
vejo a estante
cheia de poesia inútil
(como toda poesia)
feita na maioria por poetas mortos
como um dia serei
rei desconhecido
dos poemas vivos e obscenos
MORTO
em breve
ou talvez demore
sabe-se lá
espero a morte
sem saber
se alguém irá
notar
sem saber o seu gosto
sem saber
como é ficar
longe do fedor da vida
sem saber
como é ser um
amontoado de nada
os outros
nem que sejam
as lesmas   as baratas   as moscas
verão minha morte
apago o cigarro
me deito e abraço
a solidão
é hora de terminar
este poema
embriagado de palavras
mortas
uma horta de calamidades
na bela noite azul
da cidade    

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