terça-feira, 15 de março de 2016



escalada

escalo
não
me calo
chego ao cume
algo diz 
não fume
fumo
rumo à nova montanha
"arranha meu peito
e diz que me ama"
lá do fundo da cama
eu a escalo
como bom galo tenho espora afiada
a escalo na alaranjada almofada
onde se deita o sol
neste fim de tarde
procuro seu corpo branco
na confusão do quarto
mesmo morto de cansaço
escalo
alturas
você me surra
com suas unhas negras
você não me quer bem
você quer meu mal
normal
eu a parti em dois
seu sexo arde
suas pernas bambas 
seus pelos eriçados
não me calo
escalo
suas curvas
você grita
mas grita baixinho
um ronronar de gatinha teimosa
você quer
não ousa dizer
eu falo
"arrebente meus lábios
com o mármore dos seus dentes"
enquanto o sol se põe
deixando no escuro
almofada laranja
escalo
até seus seios rijos
até seu pescoço vermelho
até sua boca de batom rosa
até olhar nos seus olhos azuis
ver teu desejo chorar de vontade
ver teu corpo todo num arrepio
escalo
não me calo
mais uma vez
com avidez
com acidez
a parto em duas metades
uma do bem
outra do mal
você nunca mais será a mesma
está rompida
me deito na comprida
almofada
observo a noite
banhar de sombras
nossos ossos suados
escalo
até o trinco da porta
me calo
e
vou
embora
lhe deixo rasgada
na solidão 
das lâmpadas
apagadas

Nenhum comentário:

Postar um comentário