segunda-feira, 8 de agosto de 2016

eu  a  América   a  Espanha   e  a  Rússia do século XIX

parece
muito
tempo
atrás
estava
engolingo
trash metal
sentado
na
cadeirinha
azul
devorando
1
litro
de
brandy
Domecq
mastigando
2
maços
de
Marlboro
e
lendo
Dostoiewski
acho
que
nem
era
inverno
mas
os
dedos
dos
pés
congelavam
pois
me
sentia
na
Rússi
do
século
XIX
e
o
estranho
é
que
as
mãos
ferviam
pois
me
sentia
na
Espanha
de
Pedro Domecq
e
o
som
do
Metallica
e
o
tabaco
me
lembravam
que
estava
na
América
e
fazia
tudo
isso
das
11
da
noite
até
5
da
manhã
quando
os
trabalhadores
de
Joinville
acordavam
eu
acordado
permanecia
chegava
o
momento
delicioso
do
poema
um
leão
fervoroso
caçando
palavras
na
embriaguez
do
corpo
caçava
bem
aquele
leão
ainda
felino
jovem
de
24
tinha
sonhos
guardados
nas
gavetas
da
escrivaninha
hoje 
abandonei
qualquer
tipo
de
sonho
naquela
época
alimentava
o
sonho
de
ser
poeta
e
viver
disso
alimentava
com
a
fúria
do
rock
americano
com
a
bebida
destilada
do
vinho
espanhol
com
a
fumaça
vermelha
do
fumo
americano
com
a
palavra
inquieta
do
escritor
russo
que
me
atordoava
estava
arrebentando
as
teclas
da
Ollivetti
portátil
até
o
sangue
vazar
pelas
unhas
até
o
canto
histérico
da
passarada
surgir
e
através
da
janela
o
vento
suave
da
manhã
secava
meu
suor
e
o
sol
cauteloso
se
derramava
sobre
meus
longos
cabelos
e
devia
ser
mais
de
6
cambaleando
ainda
bebendo
a
última
dose
fumando
o
último
cigarro
ouvindo
a
última
faixa
do
lado
B
fixava
com
fita
adesiva
os
poemas
da
insanidade
em
que
vivia
nas
paredes
brancas
(e já havia uma centena deles
grudados por todos os
lados)
um
cômodo
repleto
de
lixo
livros
discos
vômito
esperma
estava
aos
24
é
faz
tempo
eu
tinha
um
sonho
que
hoje
não
me
faz
falta
mas
eu
tinha
o
sonho
de
escrever
um
glorioso
poema
para
ninguém
era
apenas
um
grito
que
aprendi
a
gostar
de
emitir
toda
manhã
ao
desabar
na
cama
ah!
também
fumava
uns
10
baseados
e
era
bom!!!
como
era
bom
tudo
aquilo
e
adormecia
inebriado
abraçado
à
Dostoiewski
sonhando
com
o
século
XIX
 e
as
prostitutas
russas
de
pele
branca
como
brancos
eram
aqueles
dias
(que não via)
pois
dormia
acordava
com
um
coice
de
dor
na
cabeça
e
os
sonhos
bem
guardados
nas
gavetas

 

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