sexta-feira, 23 de setembro de 2016

desaparecendo pouco a pouco

acho
que
meu
pai
está
morrendo
acho
que
aquele
garoto
da
loja
de
discos
me
odeia
e
os
olhos
de
Chaplin
me
observam
quando
deitado
fumo
triste
o
Marlboro
antes
doce
e
Jim Morrison
envia
palavras
na
orelha
febril
e
entro
no
ônibus
amarelo
visito
o
bairro
São Cristóvão
retorno
caminhando
pela
ponte
de
ferro
o
rio
me
encara
o
vazio
me
invade
procuro
Bianca
na
rua
solitária
acho
que
ela
partiu
 acho
 que
meu
pai
está
com
uma
faca
entre
os
dentes
ele
não
sorri
não
chora
apenas
escuta
o
padre
reza
e
a
dor
em
minha
coluna
cervical
cresce
sonho
mas
não
sei
se
estava
dormindo
quando
acordo
o
amanhecer
me
espanca
onde
estará
Bianca?
acho
que
aquele
garoto
quer
chutar
minhas
bolas
desisti
de
saber
quem
sou
suspeito
que
não
existo
nada
existe
não
vida
nem
morte
somente
algo
que
ainda
não
foi
denominado
e
hoje
um
cara
me
disse:
"você é o poeta
a cidade inteira
te conhece!!!"
entristecido
me
desviei
dele
e
vaguei
mais
entristecido
ainda
pois
não
conheço
ninguém
nessa
cidade
me
sinto
um
estrangeiro
e
a
música
é
a
única
companhia
que
possuo
além
daquele
cineasta
judeu
de
Nova York
que
me
provoca
risos
e
lágrimas
toda
noite
estou
   obcecado
por
esse
judeu
obcecado
por
essa
escrita
dissecado
como
um
sapo
na
aula
de
anatomia
vejo
minhas
fatias
jogadas
    no   
tapete
vejo
o
rosto
de
minha
mãe
nos
panfletos
políticos
que
moças
insinuantes
me
oferecem
e
recuso
gentilmente
após
olhá-las 
 com
fascínio
tamanho
que
enrolo
a
língua
ao
dizer
obrigado
canto
canções
de
Rod Stewart
choro
e
acho
que
nunca
mais
verei
Bianca
e
acho
que
meu
pai
pode
estar
morrendo
nesse
momento
seu
pau
está
pegando
fogo
o
médico
nada
entende
e
minhas
fatias
no
tapete
dizem
boa-noite

Nenhum comentário:

Postar um comentário