quarta-feira, 14 de setembro de 2016

uma anotação sobre a vida selvagem
um
gato
preto
destroçado
amarrotado
sujo
mas
valente
atrevido
está
à
espreita
sobre
o
telhado
de
olho
vidrado
na
passarada
do
meu
pai
(que blasfema por todo o pátio
irritado com a selvageria
desse bicho!!!)
eu
observo
o
gato
admiro
seu
estilo
sorrateiro
de
predador
calmo
sobre
as
telhas
vermelhas
sob
o
céu
ardente
das
2
enquanto
fumo
meu
Marlboro
e
rumino
meu
desespero
e
fascínio
por
ainda
estar
vivo
e
o
gato
preto
se
aproxima
com
sua
pose
felina
assusta
os
pintassilgos
nas
gaiolas
que
se
arrebentam
nas
grades
assusta
meu
pai
que
arremessa
pedaços
de
lenha
baldes d'água
gritos
ameaçadores
e
o
bichano
se
afasta
por
alguns
minutos
o
sol
esquenta
cabeça
acendo
outro
cigarro
gato
preto
novamente
surge
se
espreguiçando
sobre
o
telhado
me
divirto
com
toda
essa
batalha
o
caçador
a
caça
e
o
homem
em
tentativa
de
exterminar
o
assassinato
eminente
e
levanto
do
banco
de
madeira
encaro
o
sol
vibrante
de
setembro
ele
acerta
a
pele
velha
de
minha
face
barbuda
caminho
rindo
por
dentro
ao
pensar
naquela
confusão
entre
passarinho
humano
e
gato
é
batalha
selvagem
fornece
sentido
à
vida
do
meu
pai
imerso
nessa
atividade
de
vigilância
e
ataque
chego
à
cozinha
sento
à
mesa
e
escrevo
isso
nem
sempre
estou
discursando
ou
 incomodando
garotas
às
vezes
permaneço
parado
enquanto
os
outros
seres
se
movimentam
de
forma
ruidosa
eu
em
silêncio
anoto

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